Tenho visto ultimamente várias reportagens de jornal sobre o baixo investimento em infraestrutura pelo setor público em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). São comparativas com dados históricos.
Mas refuto tais comparativas.
Não sou especialista em contas públicas, mas acompanho a infraestrutura e seus investimentos há, pelo menos, 30 anos.
Realmente os números percentuais de investimento público direto sobre o PIB deve estar e continuará caindo. Isso, por um simples motivo: a transferência dos ativos de infraestrutura para o setor privado.
Não sendo redundante, já disse isso várias vezes nos meus textos no Blog, é uma realidade que continuará a crescer. O setor privado investirá cada vez mais e o setor público (diretamente) cada vez menos.
Mas o que incomoda é essa transferência de alocação do investimento.
Para muitos, a perda dessa linha de receita (setor público) é incômoda e fatal. Muitos não estão preparados para tal. Até mesmo o setor privado que hoje é o principal responsável pelos investimentos em infraestrutura.
Novos Players e até mesmo grupos advindos do setor, contratam engenharia como se estivessem comprando algo simples de catálogos.
Engenharia, assim como médicos e advogados, é um produto complexo e customizado. Para cada caso uma solução diferente e um custo compatível com a solução adotada.
Gosto, até porque já o usei em um grande desafio, do conceito do ”Melhor Preço”, qual seja, o menor preço entre as empresas e/ou fornecedores que possuem a necessidade do projeto, seja ela “qualidade” ou “prazo”.
Com isso, formamos a famosa tríade da implantação de um projeto, muito adotada por nós: “Qualidade”, “prazo” e “custo”.
Para a obtenção dessa tríade, estudos e planejamentos devem ser efetuados previamente e bem definidas as premissas de contratação. Caso contrário, pode-se escolher um dos três parâmetros para abdicar, em caso, lógico, de se ter um contrato para cumprir.
Se tiver pouco prazo, mas esse deve ser cumprido, escolha abrir mão da qualidade ou do custo. Se precisa do custo, escolha entre prazo e qualidade para abdicar e, obviamente, se precisa da qualidade, custo ou prazo não serão atendidos.
Parece simples, mas é complexo. Tão complexo que muitos ainda não entendem os problemas ocorridos em seus projetos.
Mas voltando ao investimento em infraestrutura pelo setor público, vamos segmentar para exemplificar: Qual será o investimento do setor público em aeroportos nos próximos anos? Resposta: quase zero e nem por isso nossos aeroportos serão sucateados, pelo contrário, estão sendo modernizados e ampliados. Tudo graças ao investidor privado.
Nesse caos, há até estudos de construção de novos aeroportos com recursos 100% privado. Um pequeno exemplo é o São Paulo Catarina Aeroporto Executivo Internacional em São Roque – SP.
Existem projetos maiores, bem maiores, como o NASP (Novo Aeroporto de São Paulo) projetado para concorrer com Guarulhos, Viracopos e Galeão.
Em ferrovias será igualmente próximo de zero o investimento público. Energia, idem. Portos em breve.
Excluem-se desse cálculo de proximidade a zero de investimentos públicos os setores de saneamento (mais resíduos sólidos) e rodovias.
O primeiro, saneamento, face a sua tamanha carência e deficiência. Mas já estamos no caminho. Com o novo marco legal do saneamento e a concessão da CEDAE RJ, em breve (20 anos talvez) já tenhamos esse setor com um percentual alto de privatização (ou concessão ou PPP).
O segundo, rodovias, como abordei recentemente quando falei do novo ciclo de concessões que se avizinha, demorará um pouco também, uns 15 anos, mas também será plenamente transferido ao setor privado (inclusive restauração e conservação) pelas formas citadas no referido texto já postado.
Assim, uma coisa é certa: O baixo investimento em infraestrutura pelo poder público tende a aumentar. No meu ver, uma boa realidade.
Caberá aos gestores do setor público e estudiosos em finanças e gastos públicos ajustarem esse índice incorporando ao numerador (investimento em infraestrutura total) os valores investidos pelo setor privado para se comparar ao PIB (denominador), obtendo-se o percentual real de investimento em infraestrutura em relação ao PIB. Ai sim, teremos uma comparação digna de confiabilidade e veremos que estamos aumentando, e qualificando melhor, o investimento total em nossa infraestrutura.