Recentemente, o jornal O Globo publicou, em coluna do jornalista Lauro Jardim, informação de que o Grupo Camargo Corrêa, agora MOVER participações, resolveu encerrar as atividades de seu braço de engenharia, a CC Infra.
Postei a reportagem no LinkedIn e muitos se manifestaram com tristeza, saudosismo e, até revolta.
Compreensível, mas fora da realidade.
Como em todos os negócios, o setor de engenharia passa, também, por ciclos de crescimento empresarial e percalços, muitos percalços.
Todas (ou quase todas) as empresas de engenharia nasceram em ambiente familiar, tendo um fundador que por tempos conduziu sua empresa. Como toda estrutura empresarial, essas empresas passam por dificuldades por mudanças bruscas de mercado e/ou não acompanhamento da evolução tecnológica e/ou de modelos de gestão e/ou, sucessão.
Em passado recente, vimos grandes empresas de engenharia deixarem de existir como, por exemplo, a Construtora Mendes Júnior (depois mendes júnior trading e engenharia) e a CBPO – Companhia Brasileira de Projetos e Obras, adquirida pela Construtora Norberto Odebrecht (então CNO).
Vale lembrar que, apesar do folclore com a Camargo Corrêa, a empresa que liderou a implantação da UHE Itaipu foi a Construtora Mendes Júnior, a maior e mais experiente à época.
Antes porém, tivemos a CETENCO, a Noronha Engenharia, Metropolitana, Paranapanema e outras mais se destacando no mercado nacional.
Grandes obras de nossa engenharia foram construídas por essas empresas, com destaque à Rodovia dos Imigrantes (SP) e do Túnel Rebouças (RJ), construídas pela CETENCO.
Por questões administrativas, de sucessão, de mercado e outras, essas empresas encolheram e/ou foram adquiridas e/ou, simplesmente, deixaram de operar.
Agora, estamos em um novo ciclo da engenharia nacional.
Nesse novo ciclo, pós Lava Jato, temos uma nova realidade no mercado. Novos clientes e novas demandas.
Muitos pensam que a lava jato acabou com a engenharia. Digo, de quem viveu esse momento que, independentemente dessa operação, as empresas não se sustentariam por muito tempo.
Todas, mas todas mesmo (alguma exceção que não conheço) já estavam com problemas financeiros, com caixa comprometido e dependente das benesses dos governos para sobreviver.
Vivi isso intensamente. Problemas de caixa extremo para a operação das empresas e projetos contratados com prejuízos inexplicáveis.
Era o prenúncio do fim. Disse isso, inclusive, a acionistas com que tive a oportunidade de conviver.
Bom, isso posto, vamos a nossa realidade atual.
O cliente dos projetos de infraestrutura mudou e continuará mudando.
Sai os governos e entram os investidores que, como vemos hoje, são, basicamente, fundos financeiros, operadores logísticos (nacionais e estrangeiros) e produtores (mineração e agronegócio, principalmente).
Esse novo cliente quer, prioritariamente, o objeto contratado entregue, em operação e pelo menor preço. Ofertam poucas possibilidades de se reequilibrar contrato e “viradas de mesa”.
Esse novo cliente, ganha seu dinheiro com a operação das obras de infraestrutura contratadas. Seu foco é no negócio e não na obra (apesar de muitos quererem ganhar dinheiro com gestão da engenharia).
Esse novo cliente tem gestão, tem um bom departamento jurídico, um bom departamento de suprimentos e pode ter (muitos ainda não tem) apoio externo de engenharia.
Esse novo cliente não permite erros contratuais e/ou “itens omissos”.
Assim, esse novo cliente, é mais rígido quanto a execução dos contratos. Esse cenário, impõe um novo modelo organizacional e de gestão nas empresas de engenharia. Sai a gestão pública com suas vantagens e desvantagens e entra a gestão privada, também, com suas vantagens e desvantagens. Mas essa última é a que vai imperar por bons anos.
Assim, as empresas tiveram, e ainda tem, que se reinventar sem a ladainha de que a engenharia nacional acabou. O que ocorreu foi a mudança do modelo de contratação e os clientes. No próprio governo temos contratos em regime RDC (Regime Diferenciado de Contratação) com mais responsabilidades ao construtor. Ainda no setor público, teremos, a partir de 2023 uma nova lei de licitações com mais rigor e garantias objetivando o cumprimento dos contratos.
A engenharia está aí, afinal, a “engenharia” são as pessoas que constroem e dominam o saber. Empresas são somente organizações que viabilizam a junção dos conhecimentos sob modelos gerencias e normas de convivência e/ou de processos.
Hoje temos a antiga Construções e Comércio Camargo Corrêa sob o nome de CC Infra. Temos a OAS sob o nome de KPE, temos a CNO sob o nome de Novanor e OEC, temos a Queiroz Galvão como Alya e temos a Andrade Gutierrez, nossa querida AG na qual passei 20 anos e aprendi muito sobre engenharia e negócios, ainda como AG mesmo, para citar apenas as antigas “5 grandes”.
Só essa mudança de nome já reflete mudanças. Mas a grande mudança deve ser a mudança vinda de uma nova cultura organizacional, novos valores (éticos e morais com certeza), de conduta e, principalmente, de modelo de gestão.
Empresas e modelos organizacionais, assim como pessoas, nascem, crescem, amadurecem, envelhecem e morrem (ou se reinventam).
Estamos vivendo hoje o envelhecimento e morte de um modelo que vigorou por tempos e que não tem mais espaço. Temos que nos reinventar e crescer. O setor de engenharia em infraestrutura está aí cada vez mais próspero, mais necessário e mais evidente.
Temos nós, que ainda apostamos nosso futuro nesse setor, que nos reinventarmos e atuar de forma a viabilizar as necessidades pessoais, empresariais, de mercado e de pais.
Nós estamos fazendo nossa parte, criando e conduzindo uma empresa com foco no novo modelo. Espero que consigamos vencer.
Trabalhando duro estamos. Velhas empresas são apenas folders.