Por João Carlos, diretor da VELLENT e especialista na implantação de projetos de infraestrutura.
Na segunda semana de janeiro deste ano, fui convidado para participar de uma reunião/conversa sobre os inúmeros acidentes com obras desse início de ano. Nada diferente dos anos passados: cidades inundadas, barragens de rejeitos sob risco, famílias desabrigadas, encostas caindo sobre casas e patrimônio histórico, estradas e ferrovias interditadas, prédios caindo.
Existem pontos recorrentes, e muito recorrentes! Mas nada é feito após as chuvas para sanear velhos problemas e se evitar os novos.
Entretanto, uma coisa é certa, muitos dos problemas são fruto da busca por economia em obras, projetos ruins, qualidade de execução igual e a falta de fiscalização pelos órgãos competentes.
Em um passado recente, ouvi de um diretor de empresa sobre sua estratégia de viabilizar um projeto em prazo reduzido e de forma econômica, qual seja: “não implantaremos drenagem alguma”. Na visão dele, o importante era concluir as obras o mais cedo possível e de forma econômica, sem comentários!
Essa visão estritamente econômica, de antecipar receitas e postergar despesas, pode muito bem ser feita em planos de negócios de projetos, mas não na engenharia. Na citada reunião, afirmei aos participantes que “obra não cai!” Explico.
Na engenharia, trabalhamos com a mitigação de riscos, projetos completos e altos coeficientes de segurança. Ou seja, obra bem calculada, bem projetada e bem executada, não cai!
O que vemos no período de chuvas são sempre os mesmos problemas acarretados por economias em projetos e/ou a falta de avaliação de riscos, ou ainda ações por parte de governos e órgãos de fiscalização de engenharia, a não implantação de obras de forma correta e preventiva.
Ao se projetar obras de Macrodrenagem, por exemplo, consideram-se dados históricos de 100, 200 anos, ou mais. Barragens, muito mais tempo. Sendo assim, não é para termos problemas em cidades, óbvio que “em tese”.
Sofás nas calhas de rios não são riscos de engenharia considerados. E encostas caindo sobre casas são acidentes recorrentes. No primeiro momento os prefeitos mandam evacuar as áreas de risco, discursam sobre não se permitir construções nos locais, mas no final de cada ano, “tudo como dantes no quartel de Abrantes!”
Portanto, entendo que devemos nos preocupar sim, com esses efeitos acarretados por velhos problemas que, a cada dia se agravam mais. Na minha opinião, cabe aos órgãos de engenharia assumir o protagonismo desse problema, regulamentar mais rigidamente projetos e execução de obras, elaborar e fiscalizar matriz de risco de cada projeto e, principalmente, punir os (ir)responsáveis por danos causados por causa de falhas de engenharia.