Formei em uma escola de engenharia de Belo Horizonte, Minas Gerais, cujo logo era uma ferrovia. Era a então Escola de Engenharia Kennedy, hoje Faculdade Kennedy.
Ao final do curso, fiz duas matérias optativas: Ferrovias de carga e portos.
Fui da comissão de formatura e, nosso convite, aclamado por todos, era uma ferrovia.
Bom, naquela época, ferrovia não era um setor de trabalho muito forte. Tínhamos em construção somente as Ferrovias Ferronorte e Ferrovia do aço, mesmo assim com inúmeras paralisações das obras.
Estava nessa época completando meu estágio na Andrade Gutierrez e as principais obras eram Usinas Hidrelétricas (obras essas nas quais eu trabalhava nas propostas técnicas), rodovias e metrô de SP.
Bom o tempo passou e tive várias experiências em obras ferroviárias de passageiros, trabalhando em obras de revitalização de linhas da CPTM e obras do metro SP.
Eis que, em 2015, sou convidado para assumir a Superintendência de Construção da Valec – Engenharia, Construções e Ferrovias, estatal sucessora da antiga RFFSA (Rede Ferroviária Federal SA). Aceitei de pronto e fui para Brasília.
No início de 2017, assumi a Diretoria de Engenharia da mesma estatal.
De Brasília, tocávamos as obras das Ferrovias Norte-Sul e FIOL (Ferrovia de Integração Oeste Leste). Eram, ao todo, 14 lotes de obras com aproximadamente, 150 km cada (exceto os lotes 5A da FIOL – Ponte sobre o Rio São Francisco e o Lote 5A da Norte-Sul – Entroncamento com a malha paulista da Rumo).
Além dessas obras de implantação, tocávamos as obras de recuperação de passivos ambientais da Norte-Sul no trecho concedido à VLi e pátios diversos.
Percorri todos os trechos de obras várias vezes e conheci todo o tramo central da Norte-Sul, de Porto Nacional, TO à Anápolis, GO.
Tive ainda o prazer de, por 2 anos, representar a Valec no Conselho de Administração da Transnordestina Logística (TLSA).
Nos meus 2,5 anos de Valec conheci muito de projetos e obras ferroviárias. Sua infraestrutura nada tem de diferente de obras rodoviárias, com foco em Terraplenagem, Drenagem e obras de Arte Especiais.
Diferença mesmo na pista de rolamento, saindo asfalto com suas camadas de sub-base e base e entrando, no lugar, lastro, dormentes e trilhos.
Tivemos experiências ímpares nesses 3 itens específicos.
Foi preciso nos aprofundarmos nas normas e especificações técnicas de britas para lastro (na diversidade de rochas existentes no Brasil), estudar o concreto de dormentes para avaliação de ocorrência de fissuração no concreto causada pelo ocorrência de entrigita tardia e oxidação de trilhos nos portos devido ao seu armazenamento próximo ao enxofre.
Para cada problema, um estudo técnico aprofundado e muito conhecimento adquirido.
AMVs (Aparelho de Mudança de Via) também foi um case.
Porque não citar o caso de AMVs talonáveis e não talonáveis que tivemos que administrar? Essa, uma história à parte.
Recentemente, após três anos, voltei à Valec para uma reunião de trabalho. Satisfeito fiquei com a receptividade calorosa que tivemos por todos que encontrei e que haviam trabalhado conosco. Coisas boas deixamos, com certeza.
Agora, passados os anos, estamos de frente a um novo marco para as ferrovias nacionais: as ferrovias autorizadas.
De papel ou não, muitas dessas vão ser implantadas, principalmente aquelas conhecidas como short-lines.
São trechos pequenos mas alimentadores das linhas principais.
Quando na Valec, muitas indústrias e prefeitos nos procuravam para ligar suas fábricas ou áreas industriais às ferrovias principais. Infelizmente, não estava no rol de prioridade da Valec.
Agora não.
Agora, cada interessado que, fazendo seus estudos de viabilidade (EVTEA – Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental) que implante sua conexão às vias principais.
Retomo então minha história com ferrovias na expectativa de poder atuar junto a esses novos investidores na implantação de seus projetos, desde os estudos de viabilidade, passando por elaboração dos projetos de engenharia, licenciamentos, desapropriações e implantação das obras. Já fizemos cada parte individualizada do processo. Um novo marco ferroviário está surgindo e nele, e com ele, vamos construir um novo Brasil.