A Infraestrutura e a Teoria do Avião

Essa semana assistimos a alguns fatos que podem passar desapercebido para alguns, mas importantes para o Brasil da Infraestrutura, seus gargalos e restrições.

Em primeiro lugar voltamos à nossa visão do apagão da mão de obra. Em quatro reportagens publicadas e repassadas no LinkedIn, pudemos ver esse fenômeno já ocorrendo.

A primeira sobre a necessidade de formação e treinamento de profissionais para atuar nas usinas eólicas do Nordeste. Determinada empresa espanhola incumbe-se de fazer esse trabalho com procura crescente das empresas investidoras nesse tipo de geração de energia para formação de seus quadros.

A segunda, quanto à necessidade de mão de obra especializada para atuar no agronegócio. Não na colheita e plantio pois isso não se faz mais manualmente. Procuram-se profissionais para, justamente, operar os sistemas tecnológicos utilizados no setor. Não há mão de obra qualificada na quantidade necessária. Teremos que buscar formação de profissionais para essa área também.

A terceira, quanto à mão de obra de nossa boa e velha construção civil. Apagão de mão de obras no centro-oeste. Qualificada ou não, aqui temos a falta de número de profissionais disponíveis. Solução? Importação de mão de obra de outros estados.

A quarta, essa surpreendente para mim que não atuo no setor: falta de não de obra qualificada no setor de navegação para atuar nos novos navios, esses, de grande porte.

Energia, agronegócio, construção civil e navegação. Quatro setores afetados diretamente pela falta de mão de obra, seja por falta de qualificação, seja por número de profissionais disponíveis.

Outra curiosidade: batemos o recorde de  pedidos de demissão em 12 meses. Pedidos de demissão. Sinal de que os profissionais estão se movimentando. Novas oportunidades ou busca do empreendedorismo. Ambos os motivos são salutar.

Outra triste realidade é a exposição dos nossos gargalos e restrições em infraestrutura.

Safras sendo colhidas e não sendo possível sua estocagem e, pior, escoamento para os portos.

Logística de transporte precária e portos em capacidade máxima de operação ou, simplesmente, sem capacidade operacional. Não nos preparamos para acompanhar o Brasil produtor.

Assim, o aumento de produtividade do campo está sendo perdida por deficiência logística.

Exemplo é a impossibilidade da safra de soja do estado do Pará ser escoada pelo Porto de Barcarena. Estão levando para o Maranhão o que encarece o frete (“…o porto de Barcarena paralisou as atividades com soja para embarcar o milho que chega do Pará, Mato Grosso e Tocantins e quem quer embarcar soja precisa ir até São Luis/MA, dobrando assim o custo do frete.”  – Notícias Agrícola 04 07 2022).

Outro exemplo é a relicitação de importantes corredores rodoviários do Agro.

A BR 153 em TO e GO já foi relicitada, após anos de imbróglios jurídicos. Agora é a vez das BRs 163 MT e BR 163 MS.

Tive a oportunidade de percorrer ambos os trechos recentemente. Agronegócio de ponta a ponta nos dois. São corredores prioritários com poucas alternativas de modal. As regiões atravessadas por essa rodovia, BR 163 MT e MS, são atendidas parcialmente por ferrovias e hidrovias, mas não escapam do transporte rodoviário de longa distância, por enquanto.

Essa questão se avoluma e expõe a necessidade de investirmos na logística de transportes e portuária dentro de nossas fronteiras.

A conta chegou. Ou investimos ou investimos. Não temos outra opção.

Os gargalos se avolumam e, a cada dia, ficam mais explícitos.

Outro dia, em reunião com investidores do agronegócio ouvimos duras críticas quanto a uma certa estatal de energia elétrica. Outro gargalo que deve ser tratado.

No caso em tela, citado grupo de investidores reclamava da falta de capacidade da estatal. Para resolverem seus problemas, investiram em autoprodução. Entretanto, não conseguiam colocar a energia na rede existente por ineficiência da referida estatal.

Essa semana vimos também a aquisição de usina hidrelétrica pela CSN justamente para isso: independência através da autoprodução de energia.

Na gestão da produção temos a teoria das restrições. Restrições não nos faltam. Resta-nos atuar de forma competente e eficiente para elimina-las.

Não virá do setor público as soluções necessárias. A esse cabe, imediatamente, aprovação de marcos regulatórios e processos de desestatização e concessão para possibilitar os investimentos privados nos mais diversos setores da infraestrutura.

Saneamento, energia e aeroportos estão em um bom caminho. Portos, começando agora com a desestatização da Codesa e, em breve, Santos, São Sebastião e outros.

O Brasil do futuro precisa de uma arquitetura presente, planejamento eficiente, cumprimento de metas, nas quais projetamos a eliminação imediata de nossos gargalos e restrições e, preventivamente, projetarmos nosso parque logístico e energético para as crescentes demandas, protegendo nosso meio ambiente e investindo fortemente em saúde e educação.

Aqui outro problema: certamente caberá às empresas investirem na formação de seus quadros estimulando cursos profissionalizantes “indoor” ou não. Só assim evitaremos o citado apagão de mão de obra.

Formar os futuros profissionais que tanto precisamos e precisaremos se faz tão urgente como os investimentos em logística, energia e saneamento.

O foco deve ser a área interna a nossas fronteiras. Esse é o nosso caminho.

“Teoria do avião: Ponha a máscara primeiro em você e depois ajude os outros.

Assim temos que fazer.

Boa notícia: Alta performance de gestão do Porto de Itaqui, MA, e nos portos do Paraná. Esses, premiados recentemente em evento do setor.

João Carlos Gomes
Um blog voltado para opiniões e comentários sobre projetos de infraestrutura brasileiros e suas histórias, relatadas por quem ainda ajuda e outros que ajudaram a fazer.

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