Começamos a ver hoje um fato interessante no mercado de trabalho: o apagão da mão de obra.
Não se trata de falta de pessoas para trabalhar. Trata-se da falta de qualificação específica e falta de interesse em determinadas áreas e atividades.
Assistimos hoje muitos jovens abandonando áreas antes desejadas, por seus desafios e remuneração, assim como a área de engenharia.
Atualmente, temos inúmeros jovens bem formados em engenharia migrando para bancos, empresas de M&A e fintechs.
O desinteresse pela área de engenharia agravou-se nos últimos tempos pela questão ética e moral. Um motivo a ser respeitado.
Tenho vários amigos, empresários, donos de empresas de engenharia bem sucedidas, que estão com dificuldade de desenhar a perpetuidade das empresas por problemas de sucessão. Vários, com filhos engenheiros que já os notificou que não querem atuar nesse setor, ou seja, não atuarão nas empresas familiares. Não com engenharia.
É compreensível pois sempre foi um setor de difícil atuação, principalmente o de infraestrutura com seus inúmeros percalços e demora na viabilização dos projetos.
Entretanto, atualmente, um novo ingrediente é colocado na mesa: a qualidade de vida.
Hoje, busca-se mais essa questão ao se analisar oportunidades de trabalho. Em contrapartida, as empresas buscam, cada vez mais, impor a seus colaboradores dedicação plena com baixa remuneração.
Para a minha geração, 60 anos, isso é mais aceitável, mas, para a turma de hoje, inaceitável com certeza.
Assisto, de dentro de casa a movimentação profissional de filhos, sobrinhos e amigos desses. Fazem eles muito bem. Mais objetivo pessoal do que organizacional, mas sem perder o compromisso com as organizações.
Movimentam-se de forma estruturada, pensada e com objetivos claros. Preocupam-se sim com a necessidade e importância do dinheiro mais o buscam com questões pessoais associadas.
Esse movimento, acarretará em breve focos de apagão de mão de obra em certas atividades. Vejo o setor de engenharia sendo um deles, até porque é o setor que atuamos.
Devemos criar atratividade para os jovens sob o risco do envelhecimento e não transmissão do conhecimento.
No setor, quase a totalidade das empresas são familiares e, em grande parte, sofrem com a sucessão. Muitas, por essa dificuldade, e outras mais, rendem-se à venda para grupos estrangeiros, como é o caso das empresas de engenharia de projetos.
Essas, atuam de forma global podendo, daqui do Brasil, executarem projetos para diversas partes do mundo. Casos assim estão acontecendo em várias delas motivados ainda pela desvalorização de nossa moeda o que barateia os custos dos projetos desenvolvidos aqui em terras Brasil.
Lembro-me que, em 2013, quando nas obras de Viracopos, tínhamos nas empresas de engenharia jovens engenheiros portugueses e espanhóis. Vinham motivados pelo crescimento do país que se visualizava e pala crise vigente nos seus países de origem. No mercado interno, muita dificuldade de se contratar.
Pós 2013, muita coisa mudou.
Vamos ver o que nos reserva o futuro. Para o setor de engenharia, projetos e oportunidades não faltarão. Uma nova onda da engenharia em projetos e obras de infraestrutura se avizinha (já postei aqui no blog texto sobre isso).
Nosso desafio é fazer com que haja, ainda, motivação para atuar nesse setor.
Um dado interessante publicado esse mês: em março 22 tivemos 1.800.000 (um milhão e oitocentas mil) demissões. Dessas, um terço, ou seja, 600.000 (seiscentas mil) foram pedidos de demissão de pessoas que optaram por mudar de área, tornar-se empreendedoras e/ou priorizar outros interesses.
Independente do motivo, isso é uma demonstração da característica atual do mercado de trabalho: o olhar para a pessoa e seu autodesenvolvimento ou a prática salutar da auto-gestão de carreira.
Um belo desafio para as áreas de Recursos humanos das organizações.
Atrair pessoas pode até ser fácil mas, com certeza, a retenção está, a cada dia, mais difícil. Esse é o desafio.